Há 16 anos um avião da Air França sumiu no atlântico próximo ao arquipélago S. Pedro e S. Paulo
- Aldemar Almeida
- há 2 dias
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Em um dia como ontem, há 16 anos, na manhã de 1º de junho de 2009, o Brasil acordava apreensivo. A suspeita do desaparecimento de um voo comercial de grande porte sobre o Oceano Atlântico vinha sendo noticiada, com algumas informações desencontradas, desde a madrugada. Depois do amanhecer, os dados ganharam consistência; as suspeitas, confirmação.
Proveniente do Rio de Janeiro com destino a Paris, um Airbus A330 da Air France (Voo AF 447) contabilizava então 228 pessoas a bordo, (216 passageiros e 12 tripulantes). O avião, de matrícula F-GZCP, partiu do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro-Galeão a 31 de maio de 2009, às 19h29min locais e deveria chegar ao Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle 10h34min depois. e havia contactado, por voz, pela última vez o controle brasileiro, às 22h33 do dia anterior. Na ocasião, o Centro de Controle de Área Atlântico - ACC-AO, localizado no Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), em Recife (PE), fora informado pelo piloto, da passagem do voo sobre o fixo (ponto virtual no espaço aéreo) INTOL, limite entre as Regiões de Informação de Voo de Recife e do Atlântico.
Às 22h49, a aeronave deixava a área de abrangência dos radares brasileiros rumo à Europa, com o estimado de sobrevoar o fixo TASIL, que demarca a mudança de responsabilidade do controle aéreo brasileiro ao do Senegal, última fronteira de nosso espaço aéreo sobre o mar, às 23h20.
O estimado, porém, nunca se confirmou. Conforme investigações posteriores, diante de condições meteorológicas precárias, uma sucessão de eventos atípicos viria a acometer aeronave e pilotos. Dos problemas no tubo de Pitot, que levariam a inconsistências nas informações de voo, às interpretações destas informações no processo decisório dos pilotos, a aeronave perderia sustentação, descendo vertiginosamente de seus dez mil metros de altitude para, ainda com a cabine pressurizada, colidir com o mar, às 23h14, levando tripulantes e passageiros a óbito.
Maior Operação SAR do País
Nos 26 dias subsequentes, o País assistiria pela TV os esforços da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, entre outras organizações, naquela que logo seria nomeada a maior operação de Busca e Salvamento sob judice do País.
Coordenada pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), órgão responsável pela Busca e Salvamento brasileiro no âmbito aeronáutico, a operação destinou equipes 24 horas por dia para localizar destroços da aeronave, ocupantes e buscar informações que auxiliassem no resgate e, mesmo, na investigação do acidente, em uma região de alto mar a 1400 km da costa brasileira. Foram semanas de buscas em uma área de aproximadamente 60.000 km² (maior do que o estado do Rio de Janeiro), definida por diversos fatores, como a última posição conhecida da aeronave, as possibilidades de deriva e as capacidades dos recursos disponíveis. Núcleos distintos operavam de diferentes localidades no Brasil: Recife concentrava o centro nervoso da coordenação das operações, propriamente; Natal era de onde saíam e voltavam a maioria dos aviões de busca; Fernando de Noronha, serviu de base para os helicópteros. No Rio de Janeiro, sede do DECEA, ficou o gabinete de gestão da crise e Brasília concentrou a estrutura destinada à investigação do acidente.
Aeronaves como Hércules C130, Bandeirantes Patrulha P95, Amazonas SC 105, Black Hawk H 60, Super Puma H34, entre outras, de esquadrões de diversas regiões do País, decolavam de capitais nordestinas para sobrevoar uma região do oceano cada vez mais ocupada por fragatas, corvetas e navios patrulha da Marinha. Os esforços mobilizaram inclusive ajuda de infraestrutura operacional de Forças Armadas de outros países, caso da França (fragatas, navios mercantes e aeronaves de busca), dos EUA (aeronaves de patrulha) e dos Países Baixos (embarcações mercantes).
Com 51 corpos de passageiros recuperados e alguns poucos destroços recolhidos, há alguns dias sem localizar alvos de qualquer gênero, no dia 26 de junho a operação SAR foi suspensa (termo adequado em contraposição a “encerrada”, utilizado quando todas as vítimas são encontradas). O DECEA, porém, ainda colaboraria, nos anos subsequentes, com a Bureau d’Enquêtes et d’Analyses (BEA) da França, entidade responsável pela investigação do acidente.
Investigação
A fase inicial da investigação focou na recuperação dos gravadores de voo, conhecidos como "caixas-pretas". Tarefa desafiadora dada à localização remota do acidente, em uma área de alto mar com profundidades de até 4.000 metros.
Os esforços de busca envolveram tecnologia avançada e missões submarinas de organizações francesas, incluindo a utilização de veículos submersíveis não tripulados e sonares de varredura lateral. Após quase dois anos de buscas, em abril de 2011, as caixas-pretas foram recuperadas. Com elas, a BEA procedeu à análise dos dados gravados pelo Cockpit Voice Recorder (CVR) e pelo Flight Data Recorder (FDR). Estes dispositivos forneceram informações detalhadas sobre os últimos momentos do voo, incluindo conversas na cabine, dados de desempenho da aeronave e registros dos sistemas de voo.
A análise revelou que o acidente fora causado por uma combinação de fatores, incluindo falhas nos tubos de Pitot (que levaram a leituras incorretas de velocidade) e uma resposta inadequada da tripulação às condições adversas. A aeronave entrou em uma situação de estol (que leva a perda de sustentação) da qual não conseguiu se recuperar.
Em julho de 2012, a BEA divulgou o relatório final da investigação, ocasião em que o documento detalhou causas e fatores contribuintes do acidente, oferecendo recomendações de segurança para prevenir situações semelhantes no futuro. As principais conclusões destacaram a necessidade de melhorias nos sistemas de medição de velocidade, procedimentos de treinamento da tripulação e protocolos de resposta a emergências.
Ao longo de todo o processo de investigação, a colaboração internacional foi fundamental. O DECEA manteve comunicação ininterrupta com a BEA e outras entidades envolvidas, fornecendo dados relevantes e suporte técnico. Este trabalho conjunto foi essencial para garantir uma averiguação abrangente e precisa, resultando em melhorias significativas para a segurança da aviação global.
Com base nas conclusões da investigação, tanto a BEA quanto outras organizações de aviação trabalharam na implementação das recomendações de segurança. Recomendações que continuam a influenciar as práticas e os protocolos de aviação. O trágico acidente do voo AF447 serviu como um ponto de inflexão para a aviação global. Desde então, organizações internacionais da aviação, incluindo o DECEA, vem implementando uma série de aprimoramentos.
Com informações publicadas na época das buscas pela Assessoria de Comunicação Social do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), órgão responsável pela busca e salvaento brasileiro no âmbito aeronáutico.
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